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De olho na Ucrânia, Taiwan lança manual para enfrentar invasão da China

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) — Enquanto a Ucrânia lida com a antecipada invasão russa de seu território, do outro lado da Eurásia Taiwan publicou pela primeira vez um guia de sobrevivência civil para o caso de a China cumprir sua promessa de incorporar a ilha autônoma – no caso, à força.

O manual de 28 páginas, publicado pelas Forças Armadas do país, é desenhado para lidar com um “crise militar”, leia-se invasão chinesa, e catástrofes naturais. Nele, são ensinados princípios como estocagem de alimentos e suprimentos e onde encontrar abrigos contra bombas, orientados por mensagens no celular.

Além disso, técnicas de sobrevivência para enfrentar incêndios maciços e prédios colapsados também são apresentadas. Alguns países, como a Suécia à sombra do colosso russo desde que os países duelavam no século 18, editam regularmente esse tipo de manual.

A novidade é um sinal dos tempos. A invasão da Ucrânia é comparada por muitos com algo que pode vir a acontecer com Taiwan. O Quad, a aliança EUA-Japão-Índia-Austrália chegou a emitir um alerta a Pequim, dizendo que a ditadura comunista não deveria repetir o que seu aliado Vladimir Putin fez no Pacífico.

Há evidentes semelhanças externas: um país gigante tem ambições territoriais ligadas a laços étnicos em um território menor e vizinho. Mas os processos históricos são completamente diversos, assim como as condições objetivas para um ataque.

A Ucrânia já foi parte do Império Russo e da União Soviética, e tem expressiva população russófona. Taiwan foi a ilha para onde os derrotados pela revolução comunista encerrada em 1949 se refugiaram, e ao longo dos ano estabeleceram um regime autônomo – autoritário e, agora, democrático e alinhado aos Estados Unidos.

Do ponto de vista militar, Taiwan tem uma enorme diferença: é uma ilha. Isso facilita um bloqueio contra suas rotas de suprimento, mas obrigaria uma operação anfíbia.

Apenas 10% de seu litoral é favorável a desembarque de tropas, e logo é fortemente defendido. Seu terreno montanhoso também a transforma num pesadelo para o movimento de soldados e blindados.

Pequim diz que quer o que chama de reintegração de Taiwan a seu território de forma pacífica. Mas nunca descartou o uso de força, dado que não há sinais de que Taipé irá mudar de ideia, ao contrário.

O apoio americano cresceu desde o início da Guerra Fria 2.0 entre Washington e Pequim em 2017, com sucessivas visitas de altas autoridades americanas à ilha e renovados negócios com fornecimento de armamento. No ano passado, foi revelado que militares dos EUA passam tempo em Taiwan treinando seus colegas locais.

A China tem respondido a isso com um crescendo de ameaças militares, com exercícios em larga escala de desembarque anfíbio, que observadores temem ser o prelúdio para uma operação em alguma das ilhas mais distantes pertencentes a Taipei no mar do Sul da China.

Além disso, tornou-se uma constante o envio de formações de aviões militares para testar a rapidez de reação das forças taiwanesas, obrigadas a enviar caças para acompanhar e afastar os adversários de seu espaço aéreo. A maior da história ocorreu em outubro.

O status diplomático da ilha é ambíguo. Ela é autônoma, mas não reconhecida como independente pela Organização das Nações Unidas. Compete como Taipé Chinês em eventos esportivos internacionais. Os EUA, ao estabelecerem laços diplomáticos com a China em 1979, implicitamente reconhecem a política de unificação de Pequim.

Na prática, contudo, são apoiadores diretos dos movimentos pró-democracia, embora o presidente Joe Biden tenha dito, em conversa recente com o líder chinês Xi Jinping, que não apoia a independência da ilha. Na mesma conversa, o chinês foi admoestado a não ajudar seu principal aliado, Putin, no esforço de guerra e contra as sanções ocidentais.

Mais importante, por meio de acordo, prometem ajudar Taiwan no caso de uma agressão externa, além de lhe fornecer equipamento militar avançado.

A falta de certeza do grau de comprometimento de Washington e as dificuldades inerentes de invadir uma ilha montanhosa sem causar um enorme dano a uma população considerada irmã que busca governar parecem demover a China de ir às vias de fato. A maioria dos analistas achava o mesmo de Putin em relação à Ucrânia.
Indo além, há analistas que temem algo que não se insinua até aqui: um ataque a Taiwan na esteira da ação na Ucrânia. A China parece ter preferido uma posição de observação, sem condenar a guerra, mas pedindo a paz.

Uma segunda frente de preocupações para Washington, contudo, está aberta na região, com as crescentes provocações nucleares da Coreia do Norte, aliás aliada de Putin e Xi. Nesta terça, um porta-aviões americano chegou à região, tomada de boatos de que, após ensaios com mísseis, a ditadura de Kim Jong-un possa fazer um novo teste nuclear.

FONTE: CLICK PB

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