RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) — Alckmin vale uma missa? Com essa pergunta, a ex-presidente Dilma Rousseff questionou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a valia de uma aliança com o ex-governador Geraldo Alckmin pela Presidência da República. Lula disse que sim, em nome da governabilidade.
Na conversa, em 13 de janeiro, Dilma consultou Lula sobre as articulações para que Alckmin venha a ocupar a vice de sua chapa para a corrida ao Palácio do Planalto.
Segundo relatos ao jornal Folha de S.Paulo, a ex-presidente lembrou a Lula a história de Henrique 4º, que abdicou ao protestantismo e se converteu ao catolicismo para ser coroado rei da França.
Em 1589, às vésperas da morte, o rei da França, Henrique 3º, designou como seu sucessor Henrique de Navarra, declarado “Henrique 4º” a partir de então. Embora nominalmente reconhecido, Henrique 4º enfrentou resistência da Liga Católica, com forte influência em Paris, para ascender ao trono.
Para pôr fim à guerra religiosa e ser legitimado, ele converteu-se ao catolicismo em julho de 1593, sendo coroado em fevereiro do ano seguinte.
A Henrique 4º é atribuída a seguinte frase como justificativa para sua abjuração: “Paris bem vale uma missa”. Ele foi assassinado por um fanático católico em 1610.
Após citar essa frase de Henrique 4º a Lula, Dilma perguntou a ele se, a exemplo de Paris, Alckmin valeria uma missa. Foi aí que Lula respondeu que sim.
Nessa conversa, testemunhada pela presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), e pelo presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante, Dilma relembrou seu processo de impeachment, em 2016.
A ex-presidente aponta seu então vice Michel Temer (MDB) como artífice de sua derrocada. Na conversa, Dilma alertou Lula para o risco de sofrer uma traição. Mas, segundo relatos, o ex-presidente voltou a defender a necessidade de união nacional e disse que Alckmin não é igual a Temer.
Lula disse também que, se eleitos em uma chapa, Alckmin será chamado a participar ativamente da administração, assim como seu vice, José Alencar, teve relevância em seu governo (2003-2010). Temer reclamava de exercer papel figurativo no governo Dilma, tendo registrado essa queixa em carta.
Durante a conversa, Dilma disse que, mesmo que indagada, não se manifestaria publicamente contra a hipótese de aliança com Alckmin, mas adiantou que defenderia seu governo quando atacada.
Dilma cumpriu sua palavra 11 dias depois e não emitiu sua opinião ao participar de uma reunião de Lula com seus conselheiros informais.
No último sábado (5), Dilma publicou nas redes sociais o que chamou de observações sobre os rumores em torno de seu futuro político. Dilma disse que não se sente isolada dentro do PT.
“Não adianta quererem fazer intriga entre mim e o presidente Lula. Nossa relação de confiança já foi testada inúmeras vezes e é inabalável”, publicou.
Procurada, a assessoria de Lula não quis comentar.
FONTE; CLICK PB