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Amoêdo se diz pessimista com 3ª via e, entre Lula e Bolsonaro, admite votar nulo

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cofundador do Partido Novo, o ex-presidenciável João Amoêdo admite: “Sou pessimista”. Não acredita que a terceira via vá encorpar até a eleição.

Se o pleito de 2022 ficar entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), e para ele tudo indica que ficará, vai fazer algo inédito em sua vida: votar nulo. “Não gosto da ideia”, diz à reportagem em entrevista por videoconferência. Mas “votar em qualquer um dos dois não é justificável”.

O ex-banqueiro diz que não se arrepende de ter votado em Bolsonaro no segundo turno de 2018, dado “o quadro que tinha” à época. Hoje não tem dúvidas: ele deveria ser destituído do cargo. Insistir na terceira via em vez de pressionar pelo impeachment foi um erro estratégico, em sua opinião.

Amoêdo se define hoje como um “filiado passivo” do partido que ajudou a tirar do papel em 2015. Conta que pediu para voltar à direção do Novo há três meses, mas foi vetado. Com rachas internos e identidade dúbia, a legenda, “em alguns aspectos, tem deixado a desejar”, segundo sua face mais pública.

Pergunta – O sr. disse, em março de 2020, que não se arrependia de ter votado em Bolsonaro. Mantém a resposta?

João Amoêdo – Se você me disser, ‘ele foi pior do que imaginava?’ Imaginava um presidente muito ruim. Conseguiu ser pior. Não fez nada do que precisava fazer e ainda desfez coisas que estavam feitas. Agora, naquele momento, com o quadro que eu tinha, aquela era a opção a ser tomada. Mas se você me perguntar, ‘votará no Bolsonaro novamente?’ De jeito nenhum.

FHC disse que sentia “mal-estar” por não ter votado em Fernando Haddad (PT) contra Bolsonaro em 2018. Hoje, num eventual segundo turno entre o presidente e Lula, vota como?

JA – Em nenhum dos dois. Em 2018, optei por Bolsonaro porque tinha aquela promessa toda de governo liberal. Eu tinha muita desconfiança porque ele nunca fez isso [enquanto deputado].

Tem até um vídeo meu dizendo: muita gente estava votando [no Bolsonaro] achando que significaria a derrota do PT. Se fosse um governo ruim, o risco seria o contrário. O PT voltar e ainda mais forte, que é exatamente o que está acontecendo, né?

O voto nulo é melhor do que escolher o que, para o sr., seria o mal menor?

JA – Nunca votei nulo, não gosto da ideia. Mas o duro, especialmente como agente político, é você depois ter que justificar o que não é justificável. Votar em qualquer um dos dois não é justificável.

Geraldo Alckmin como vice de Lula é uma aliança que faz sentido para o sr.?

JA – Acho muito estranho, os dois foram competidores. Em tese, o Alckmin sempre vendeu uma linha ideológica diferente da do PT. Acho que esse processo não faz muito sentido.

É possível uma frente ampla de verdade, como vimos na Hungria?

JA – Que una esquerda e direita? Tenho dificuldades de ver isso basicamente porque Lula, na minha avaliação, foi uma pessoa que atentou contra a democracia quando fez compra de votos através do mensalão, quando implementou a questão do petrolão. Um líder que atuava no nicho democrático e, por vias escusas, fez um sistema contrário às decisões democráticas. Da mesma forma como vejo no Bolsonaro um ataque às instituições. Esses mecanismos usados pelo PT também, no meu entender, tiveram o mesmo objetivo.

Acha que são riscos equivalentes, Lula e Bolsonaro?

JA – Difícil dizer. Como existe predisposição dos dois, e já fizeram isso em situações anteriores”¦ Ao referendar uma nova candidatura pro Lula, a gente está dando carta-branca para ele. E desde 2020 tenho defendido o impeachment de Bolsonaro. O fato de não termos avançado nessa pauta, acho que a gente deixou exemplo ruim. Se um presidente fez tudo o que Bolsonaro fez [e continua no cargo], que sinalização damos?

As instituições, sob o PT, não foram atacadas como estamos vendo agora. Por que os vê como ameaças iguais à democracia?

JA – Acho que não foram tão atacadas quanto foram agora, mas tinha um projeto de poder que poderia levar, num segundo momento, a isso. Elas foram, em alguns casos, um pouco aparelhadas. Vimos isso nas estatais. E acho que poderia haver um processo de permanência no poder que levasse, com o tempo, a que elas fossem mais avariadas. Quando você tem um candidato [Lula] que diz que pretende fazer regulamentação da mídia, acho uma sinalização muito ruim.

Sergio Moro (Podemos) tem se mostrado, até aqui, o nome mais competitivo da terceira via. Moro é uma pessoa séria, bem-intencionada, mas claramente ainda é um projeto em construção. De fato, nas pesquisas é o que tem mais chance, mas Lula está bastante isolado, mesmo Bolsonaro está distante. Para poder crescer, Moro vai ter que responder algumas perguntas. Quais alianças fará, quais propostas tem e como pretende executá-las.

E o sr. tem um preferido da terceira via?

JA – O que a gente vê, infelizmente, são as pessoas sempre escolhendo um candidato para derrotar o anterior. Hoje não vislumbro um nome com projeto pronto, mas vamos ver o que Moro terá a apresentar.

O sr. não parece muito otimista.

JA – Eu sou pessimista. Sempre tive a tese de que, apesar de ser difícil, o impeachment deveria ter sido o foco fundamental. Primeiro porque obviamente era devido, Bolsonaro merece pagar por tudo o que fez. A sociedade ficou muito tempo na tal da terceira via, não deu o peso que acho que deveria ter dado ao impeachment. Sei que é difícil, com um presidente da Câmara que apoia o presidente, mas deveria ter pressionado. Então não sou muito otimista, não. Claro que sempre pode acontecer um evento inesperado, mas não me parece muito provável.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, era um fiador do governo Bolsonaro entre liberais. Ainda é?

JA – De jeito nenhum. Guedes tinha um discurso muito bom, mas ele ficou no discurso. Teve a reforma da Previdência. Reforma administrativa não fez, privatização não fez, abertura da economia também não aconteceu, a reforma tributária foi deixada de lado. Ele, que era para ser referência, o tal do posto Ipiranga, passou a ser o contrário. A ter uma postura parecida com Bolsonaro, fez várias declarações absurdas. Um desserviço à tese do liberalismo.

Os rachas internos, a saída de Christian Lohbauer, que foi seu vice em 2018… O que está acontecendo no Novo?

JA – Deixei a gestão do partido em 2020. Eu estava totalmente fora da gestão. Agora, pelo fato de ter sido [presidenciável], acabei ganhando alguma visibilidade, um crescimento grande nas mídias sociais. A partir de 2020, passei a fazer oposição firme ao Bolsonaro, por todos os ataques ao Estado de Direito.

Alguns quadros do Novo, dada a força que Bolsonaro tem nas redes, ficaram incomodados com isso. O partido como instituição ficou dividido entre ter uma pessoa que não fala pelo partido –mas muitas vezes me veem como se eu falasse– e seguir a agenda de alguns candidatos.

Enfraqueceu-se porque não tomou posicionamento desde o início. Mesmo quando tomou, de mais recentemente se colocar a favor do impeachment, deixou os mandatários para não necessariamente seguirem essa orientação. Para filiados, formadores de opinião, imprensa, ficou uma coisa dúbia. A identidade não fica clara.

Em março, o sr. disse que pretendia continuar no Novo enquanto ele se mantivesse fiel aos princípios. Está se mantendo?

JA – Continuo como filiado. Agora, acho que em alguns aspectos tem deixado a desejar. O problema maior que vejo: não estamos na política para fazer exatamente o mesmo que os outros partidos. Estamos lá para ter coerência. Muitas vezes o partido busca soluções de curto prazo. Por exemplo, começa a discutir coligações em Minas. Mas como elas serão feitas? Em cima dos valores do partido ou com base no cálculo eleitoral?

Mesmo com críticas claras ao Novo, o sr. permanece nele. Qual seu papel ali hoje?

JA – Até me ofereci, uns três meses atrás, para voltar à direção do partido. Fiz uma carta dizendo, “olha, a gente está perdendo muitos filiados, acho que não está havendo uma construção do Novo como deveria haver”. Não fui aceito.

Agora tenho que deixar claro que o que acontece no Novo hoje não é responsabilidade minha. Não tenho nenhuma ingerência. Ideia do partido sempre foi, “nós vamos crescer com a marca se fortalecendo, se fizermos caminho inverso, de deixar a marca para ter crescimento, não teremos uma coisa nem outra”.

Hoje diria que sou filiado passivo no processo. Preciso me desvincilhar da narrativa falsa de que mando [na legenda] para que as pessoas possam assumir suas responsabilidades. Vamos ver como a coisa evolui.

Vou usar metáfora bolsonarista: casamento em crise. Não pensa no divórcio?

JA – Não tenho nenhuma pretensão de sair. Esse casamento deu um trabalho danado, foram dez anos para convencer a noiva a ir para a igreja [ri]. Continuo vendo o Novo como opção única para mudar o quadro político no Brasil.

RAIO-X

João Dionisio Filgueira Barreto Amoêdo, 59

Candidato a presidente da República pelo Novo em 2018, em sua primeira eleição, conquistou 2,6 milhões de votos (2,5% do total) e ficou em quinto lugar. Ex-banqueiro, com patrimônio declarado em R$ 425 milhões, ajudou a fundar o partido e foi presidente da sigla até março de 2020.

FONTE: CLICK PB

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