Quando a pesquisadora Juliana Oliveira, 50 anos, tomou a primeira dose da vacina Astrazeneca em junho deste ano, observou algumas alterações no ciclo menstrual. A menstruação durou menos dias que o normal e, no ciclo posterior, veio com outros sinais incomuns.
“No 2° ciclo, um mês após a vacina, não tive escapes prévios, senti muita cólica (que não costumo ter) e um fluxo intenso e com eliminação de pedaços grandes de membrana/endométrio. O fluxo intenso durou dois dias, mas continuei com escapes por mais seis dias e tive em um dia inteiro dor de cabeça muito forte”, relata Juliana Oliveira, curiosa sobre a possível relação das mudanças com a vacina.
Alterações no ciclo menstrual têm sido reportadas por mulheres no mundo todo, sejam relacionadas ao estresse causado pela pandemia ou como reação à vacina. “Na vacina, você tem ali um vírus vivo inativado ou um vetor viral ou um RNA mensageiro e a presença do vírus ou de pedaços do vírus, o que pode, sim, provocar alterações hormonais que levarão a alterações menstruais”, explica Daniel Diógenes, especialista em medicina reprodutiva. “São alterações transitórias sem nenhum problema futuro para as mulheres”, assegura o médico.
O especialista tranquiliza ainda que tomar a vacina durante o período menstrual não é um problema e não causa danos aos órgãos genitais, ovários, útero, trompas ou à fertilidade das mulheres. “Você pode realizar a vacinação a qualquer momento do período do ciclo menstrual”, afirma o médico.
ALTERAÇÕES DO CICLO
De acordo com a fisioterapeuta Rafaela Oliveira, acupunturista e especialista em Saúde da mulher e Fertilidade, as alterações mais comuns relatadas estão relacionadas à duração do período menstrual, quantidade de fluxo, duração do ciclo como um todo, ou sintomas atípicos. Ela atenta para a importância de se observar e conhecer o próprio corpo. “É importante que a mulher conheça o próprio ciclo e esteja atenta às possíveis alterações. De um modo geral, são leves e não precisam de alarde. Se aparecerem sintomas intensos ou permanentes por mais de dois ciclos, é recomendado informar ao ginecologista”, afirma Rafaela Oliveira.
Em relação a presença do DIU e do uso de contraceptivos, não existe nenhum indício de podem potencializar efeitos brandos ou mais graves da vacinação. “Em teoria, o uso do anticoncepcional não vai potencializar um efeito ruim, trombótico ou vai dar uma chance maior de trombose”, afirma Daniel Diógenes. “Não existe nenhuma ligação e nenhum dado que mostre isso. Então, tem que se manter a cautela, a calma e as mulheres que usam anticoncepcional ou DIU devem se vacinar independente da tecnologia utilizada pela vacina”, recomenda o médico.
Como asseguram os especialistas, as possíveis alterações do ciclo não devem inibir que se tome a vacina. “As vacinas são importantes, seguras e, no momento que vivemos, é fundamental que todos se imunizem. As possíveis reações do ciclo são transitórias, e nada que se compare ao risco de contaminação pelo Covid-19”, afirma Rafaela Oliveira.
A Anvisa solicita que as pessoas que sentirem algum evento adverso após a vacina registrem o relato no sistema VigiMed, disponível na página da agência reguladora.
FERTILIDADE E ABORTO
Como explica Daniel Diógenes, não existe nenhum dado que relacione a vacina da Covid-19 com aumento de abortamentos, mal formações embrionárias ou trabalhos de parto antes do tempo. “Nem a infecção em si do coronavírus tem relação com o abortamento. Na paciente que tem a contaminação pelo vírus, no final da gravidez, essa, sim, pode ter um trabalho de parto antes do tempo, pode ter um agravamento pulmonar muito grave, uma trombose, mas pela vacinação em si, com risco de perda gestacional, os dados são inexistentes”, afirma o médico.
A vacinação é segura e não causa riscos à fertilidade. Todavia, Daniel Diógenes chama a atenção para o fato de já existirem dados que mostram que a infecção pelo vírus possa causar danos à fertilidade dos homens “Existem alguns dados fortes de que este vírus tem uma a predileção pelo testículo e pode provocar uma diminuição da produção de espermatozoides temporariamente no homem afetado pela infecção do coronavírus, não pela vacina”, ressalta. “Não existe nenhum dado de que qualquer tipo de vacina contra o coronavírus provoque danos à fertilidade de mulheres ou de homens, ou ao útero. Então a indicação realmente é vacinar sem medo e sabendo que a vacina é a saída para essa pandemia”, conclui o médico Daniel Diógenes.
FONTE: DIARIO DO NORDESTE