Os preços administrados foram uma das principais pressões na inflação para consumidores nos 12 meses até maio de 2021.
São os serviços e produtos com reajustes definidos por contratos ou por entidades. Combustível, energia elétrica e planos médicos são alguns deles. A bandeira tarifária da conta de energia, por exemplo, é determinada pela agência reguladora Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
O Poder360 entrevistou Pedro Kislanov, gerente do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) no IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O indicador mede a inflação para consumidores.
Ouça a entrevista de Pedro Kislanov ao Poder360 (12min):
Abaixo, trechos da entrevista:
- o que são preços administrados – “[Há] os preços livres e os preços administrados. Livres são aqueles totalmente determinados pela oferta e demanda do mercado. Enquanto os administrados são aqueles que estão suscetíveis a algum reajuste, determinado ou por uma concessionária de energia (energia elétrica), ou pela Petrobras (combustíveis)”;
- impacto na inflação – “Eles representam, mais ou menos, 26% do peso total do IPCA. São itens bastante representativos, como a gasolina e a energia elétrica, que acabam pesando muito no bolso das famílias”.
- consumidores e produtores – “Além de afetar diretamente o consumidor, que vai pagar a luz e abastecer o carro, também têm um efeito indireto: acabam impactando os custos de produção e dos estabelecimentos prestadores de serviços. Porque aquela pessoa [produtor/vendedor] também vai ter que pagar a luz e ter um custo de transporte para aquele produto chegar até o consumidor final”;
- alta nos últimos 12 meses – “Observamos desde o ano passado que esse componente tem sido influenciado principalmente pelos combustíveis. A gasolina sozinha no acumulado de 12 meses tem mais de 45% de alta. Lembrando que a gasolina é o que tem de maior peso no IPCA de modo geral”;
- junho de 2021 – “Já foi determinada a bandeira vermelha 2. Então, vai ter um acréscimo na conta de luz. Vai continuar pesando no bolso do consumidor. A gasolina vai depender do comportamento do dólar, do preço internacional do baril de petróleo. São fatores que a gente vai ter que acompanhar ao longo do ano”;
- crise hídrica – “O clima seco faz com que você tenha que acionar termelétricas, com um custo de produção muito mais alto e isso acaba sendo repassado para o consumidor final. Em junho já está tendo o acionamento da bandeira vermelha 2, que é uma bandeira que adiciona mais de R$ 6 a cada 100 kW consumido. A bandeira vermelha patamar 1 é R$ 4,17. Além disso, tem outros reajustes tarifários das concessionárias de energia que ainda podem ocorrer ao longo do ano”;
- adiamento do reajuste de 2020 – “Teve alguns reajustes que foram represados ao longo do ano passado, por causa da pandemia e da crise econômica. Em maio [de 2021] houve alguns desses reajustes que foram represados no ano passado. O exemplo mais claro de retomada dessas cobranças adicionais é o plano de saúde. Ano passado teve a suspensão do reajuste do plano de saúde. Normalmente, o novo valor é anunciado em agosto, mas vale a partir de maio [3 meses antes]. Ele é retroativo. Eles postergaram para 2021 o reajuste de 2020. Então, estamos pegando no IPCA desde janeiro a parcela lá de 2020, em breve vai ter a parcela de 2021. Nós vamos ficar com as duas parcelas juntas nesse ano nos planos de saúde, o que deve pesar na inflação no acumulado do ano. E assim como aconteceu com plano de saúde, isso pode acontecer com outros fatores”;
- mais pobres mais impactados – “Inflação alta em geral prejudica principalmente as famílias mais pobres. Não tem muito como abrir mão de certos gastos. Principalmente de alimentícios, mas também de monitorados, como energia elétrica. Isso impacta muito as famílias de menor renda. Elas não têm como deixar de pagar conta de luz, por exemplo. Isso é fundamental”;
- inflação alta – “Você ter uma inflação sobre controle é algo fundamental para o bom funcionamento da economia”;
- situação mundial – “Esse movimento de preços no Brasil não é exclusivamente nacional. Ele é um movimento global. A inflação americana veio acima do esperado. Vários países estão passando [por isso]. Houve uma emissão de moeda muito forte ao longo do ano passado. E isso acaba chegando na inflação”;
- impacto da alta dos preços das matérias-primas – “É principalmente sobre os combustíveis, porque a política de preços da Petrobras em relação a gasolina e diesel depende dos preços da commodities –o preço do barril de petróleo no mercado internacional– e também do dólar. O fator internacional é muito importante também. Para outras coisas pode afetar indiretamente até por causa do preço do combustível. Por exemplo, reajuste de ônibus urbano vai ter custo para os provedores do serviço com a gasolina e com o diesel”.
FONTE: PODER 360