SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) — O primeiro debate das prévias presidenciais do PSDB foi marcado por críticas indiretas entre os governadores João Doria (PSDB-SP) e Eduardo Leite (PSDB-RS), que evitaram confrontos abertos — as provocações ficaram a cargo do terceiro concorrente, o ex-prefeito de Manaus e ex-senador Arthur Virgílio (PSDB).
No debate promovido pelos jornais O Globo e Valor Econômico, Tanto Leite como Doria afirmaram ter sido um erro ter apoiado a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 e fizeram críticas ao atual presidente, sobretudo na condução da economia e na flexibilização do teto de gastos.
Os postulantes do PSDB demonstraram certa discordância a respeito do papel da economia e da democracia para o país.
Leite afirmou defender a democracia, mas ressaltou que, no contexto de crise econômica, as pessoas passam fome, enquanto a democracia está protegida pelos sistemas de controle e divisão de Poderes que a Constituição prevê.
Arthur e Doria lembraram seus pais que tiveram o mandato cassado pela ditadura para afirmar que a democracia deve ser condição primeira e que, sem ela, não há prosperidade econômica.
Virgílio questionou Doria a respeito de picuinhas entre ele e Leite que aparecem nos jornais e afirmou que isso não ajuda para a unidade do partido. Também questionou Leite por ter apoiado a eleição de Jair Bolsonaro em 2018.
“Você devia ter desprezado o apoio de Bolsonaro e perdido como tucano de verdade”, afirmou Arthur a Leite sobre a eleição de 2018. O ex-senador afirmou ter votado em Fernando Haddad (PT) no segundo turno.
De forma indireta, Leite alfinetou Doria ao afirmar que não aderiu à campanha de Bolsonaro, não o buscou para tirar fotos e nem misturou seu nome ao dele – algo que Doria, então candidato, fez ao vestir a camisa “BolsoDoria”.
O gaúcho, em certo momento, também afirmou que, em sua trajetória, não traiu aliados e exaltou ter feito campanha para Geraldo Alckmin em 2018, em mais uma indireta para Doria, que é alvo de crítica no PSDB por ter abandonado seu padrinho político.
Doria, por outro lado, afirmou que seu governo é liberal na prática, exaltando reformas e privatizações.
Em outra estocada em Leite, disse que somente São Paulo havia feito uma reforma administrativa profunda, algo que o gaúcho respondeu, defendendo a abrangência de suas reformas administrativa e da previdência.
O debate não ocorreu sem tensões, mas foi mais ameno do que o clima da campanha na última semana, quando Leite comparou Doria a Bolsonaro e quando o governador paulista chegou a se recusar a participar do evento.
Os três tucanos defenderam a unidade do partido, num ambiente de cordialidade e até de risadas. Arthur chegou a se emocionar ao fazer uma defesa da democracia e da política.
Quando o tema foi a experiência de cada um dos tucanos, Leite chegou a pedir direito de resposta em relação a uma fala de Arthur, mas foi negado. O ex-senador afirmou que o governador gaúcho disse, no debate, ser o mais experiente entre os três, algo que Leite afirmou não ter dito.
De maneira geral, Doria se concentrou em apresentar diversos programas implementados em São Paulo. Neste ano, o tucano anunciou um programa de investimentos de R$ 50 milhões.
Doria fez questão também de lembrar sua atuação para a obtenção da vacina contra a Covid-19, dando o pontapé na vacinação do país.
Em contrapartida, Leite afirmou ter colocado as contas do Rio Grande do Sul em dia e ponderou que, num estado endividado, não teria a mesma capacidade de investimentos que Doria.
Arthur Virgílio pregou a importância da preservação da Amazônia e ponderou sob um risco de intervenção estrangeira caso não haja políticas nesse sentido. Também defendeu a zona franca de Manaus como única alternativa de emprego à população do estado atualmente.
O ex-senador divergiu de Leite ao defender a reeleição, enquanto o governador gaúcho prometeu que, se eleito presidente da República, não irá concorrer ao cargo novamente.
Na sexta (15), Doria chegou a anunciar que não mais participaria do debate por não concordar com as regras.
Em nota, a campanha do governador paulista não apontou exatamente qual era a discordância, mas a reportagem apurou que a duração do debate e a possibilidade de perguntas duras preocupavam o tucano.
No PSDB, a recusa em participar foi lida como um desprestígio ou descrédito de Doria em relação às prévias e houve reações negativas. No fim de semana, Doria voltou atrás. Seus auxiliares afirmam que ele recebeu muitas mensagens de apoiadores pedindo para que participasse do debate.
FONTE: CLICK PB