O presidente Jair Bolsonaro carece de políticos que o apoiem em São Paulo. Certamente ele tem aliados no Estado. Só que não são muitos. Nem muito fortes.
Para piorar as coisas para Bolsonaro, são muitos os seus ex-amigos entre os eleitos por paulistas. Dos 20 principais políticos com quem ele rompeu, a maior parte é de São Paulo: 7 no total. Um deles é o governador João Doria (PSDB). Ele atraiu para seu partido o deputado Alexandre Frota (155 mil votos, 17º nas urnas em 2018).
A deputada Joice Hasselmann (1,08 milhão de votos, 2ª nas urnas) continua no PSL. Mas em conflito com Bolsonaro e seus apoiadores desde setembro de 2019. Disse no domingo (25.jul.2021), sem citar nomes, suspeitar que desafetos a tenham agredido quando estava inconsciente em casa. É uma amostra do grau de animosidade que se construiu entre o presidente e seus ex-apoiadores.
O falecido senador Major Olímpio (PSL), que teve 9 milhões de votos, foi outra guinada. A inimizade construída tem agravantes para a imagem de Bolsonaro: o senador, crítico da ação do governo na pandemia, morreu de covid. E era um policial militar. Isso tende a prejudicar o presidente em um grupo no qual normalmente ele tem apoio com facilidade.
Pode-se argumentar que Bolsonaro é que ajudou todas essas pessoas a serem eleitas em 2018. Só que em 2022 a situação será outra. Ele não é um presidente popular: 62% dos brasileiros desaprovam seu governo e 32% o aprovam segundo o PoderData. Seria ótimo para ele ter a seu lado um candidato forte ao governo do Estado.
CANDIDATO DE FORA AO GOVERNO
A aposta de Bolsonaro até agora para o governo paulista é o ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), reconhecidamente um excelente quadro técnico. Nunca se candidatou a um cargo eletivo. E não é paulista.
A cidade de São Paulo elegeu prefeito em 1996 um carioca estreante na política: Celso Pitta. Só que ele herdou os votos de Paulo Maluf, extremamente popular na época. Além disso, não se pode tomar a capital pelo Estado. Jânio Quadros, eleito em 1954, é o mais recente governador de fora. Nasceu em Campo Grande, mas formou-se na Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo). Foi eleito vereador e depois prefeito da capital.
Bolsonaro fez o percurso inverso: nasceu em São Paulo, mas formou-se pela Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ). Fez carreira política no Rio. Ser derrotado no Estado onde nasceu e foi criado é um risco real em 2022.
Mais do que isso, perder em São Paulo pode lhe custar a permanência no cargo. O Estado tem 21,7% dos eleitores do país. Se fosse uma região autônoma, ficaria em 2º lugar, atrás do Nordeste (26,8%), mas à frente do conjunto dos outros 3 Estados do Sudeste (21,1%). Em seguida vêm as regiões Sul (14,7%), Norte (7,9%) e Centro-Oeste (7,4%).
Em 2018, Bolsonaro ganhou com folga nos Estados do Sudeste, com 24 milhões de votos no 1º turno. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem na região 40% das intenções de voto, segundo o PoderData. Bolsonaro tem 26%. São cerca de 8 milhões de votos a menos do que teve em 2018.
Em Minas e no Rio, Bolsonaro conta com governadores que o apoiam e que buscam ser reeleitos. É uma situação muito diferente da de São Paulo. Ter apoio no Estado seria, portanto, ainda mais importante.
No Nordeste, a situação de Bolsonaro é difícil faz tempo. Tem 19% das intenções de voto. Lula tem 59%. Mas no Nordeste o atual presidente perdeu em 2018 e ainda assim venceu a eleição. É grande a chance de que chegue atrás novamente. Só que ser reeleito perdendo no Nordeste e no Sudeste, que concentram em conjunto 70% dos eleitores, é algo bastante improvável. Não há precedente na história recente: o vitorioso sempre fica na frente em uma das duas regiões. Ou em ambas.
Estamos a 15 meses das eleições presidenciais. Muita coisa pode mudar até lá. A economia tende melhorar, e, com isso, as chances de reeleição de Bolsonaro. Mas esse quadro não é garantido. Se não tomar muito cuidado, inclusive com quem o apoiará e terá seu apoio, Bolsonaro poderá ser o 1º presidente a tentar ser reeleito sem sucesso desde que a reeleição foi aprovada, em 1997.
FONTE: PODER 360